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Papo de Fera
[Papo de fera #5] Eleições de 2024, esquerda e mulheres
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[Papo de fera #5] Eleições de 2024, esquerda e mulheres

com Raquel Marques

Olá, ouvintes! Como vocês estão?

Nesse último mês, recebemos uma enxurrada de notícias que explicitam a violência1 (e a falta de noção2) masculina que existe por dentro do espaço da política institucional. Em meio às discussões que permeiam às informações que têm vindo a público, mulheres e feministas são, como historicamente sempre foram, prontamente acusadas de promoverem a cisão do campo esquerda por exporem – através de denúncias e críticas dirigidas aos “seus camaradas” – a óbvia incompatibilidade existente entre os projetos políticos masculinos – seja o progressismo esquerdista ou o conservadorismo da direita – e um projeto político verdadeiramente feminista, capaz de contemplar verdadeiramente os interesses e necessidades da outra metade da população.

Nesse cenário de perseguição generalizada, invalidação e silenciamento de mulheres – até mesmo daquelas que alcançaram alguma mobilidade política e social, e se encontram em posições consideradas de poder –, é possível salvar a esquerda, ou até mesmo a política institucional? A conclusão mais evidente – ainda estarrecedora para algumas, que insistem na defesa incondicional de seus camaradas – é que a esquerda, diferente do que dizem por aí, nunca esteve, de fato, junto das mulheres.

Sufragista inglesa Annie Kenney (1879 - 1953) sendo presa durante uma manifestação.

O histórico do sacrifício dos interesses de nossa classe é longo. Tivemos nossa força instrumentalizada em diversos processos revolucionários considerados progressistas em seus tempos, passando, por exemplo, pela Revolução Francesa3, atravessando a Revolução Russa4 e chegando até a atual República Popular da China5

Para tratar desse tema, a roda do Papo de Fera ficou maior e nós tivemos a alegria de trocar algumas ideias com a Raquel Marques, ativista do parto humanizado no Brasil e fundadora da Artemis, uma das primeiras organizações nascidas para tratar do tema na país, advogada, sanitarista e ex-dirigente política. Nós três conversamos a respeito de eleições, votar ou não votar, política institucional e capitalismo globalizado, e as limitações impostas às mulheres dentro desse espaço de disputa de poder. 

Referências mencionadas: 

  • Na Fogueira com Raquel Marques:

lado b
na fogueira #2
A fogueira remete às conversas em roda, onde comemos, conversamos e contamos histórias, do sabat às nossas festas juninas. Ao mesmo tempo, ela é símbolo histórico de perseguição, caça às bruxas e queima de hereges. Aqui no lado b, a fogueira é uma seção em áudio com convidadas e convidados compartilhando sobre perseguição, cancelamento, a vida após o peak trans (na academia e fora dela), o que isso tudo tem a ver com o atual estágio de disrupção das relações bióticas e outros papos de interesse feminista e ecológico. Meu objetivo é navegarmos juntas pela complexidade da caça às bruxas da era ciborgue em meio à crise epocal do capitalismo…
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1

Sobre o caso Silvio de Almeida, ver: https://agenciabrasil.ebc.com.br/politica/noticia/2024-09/lula-demite-silvio-almeida-apos-denuncias-de-assedio-sexual

2

Sobre o hino cantado em linguagem neutra em um comício eleitoral da campanha de Guilherme Boulos, ver: https://www.metropoles.com/sao-paulo/policia-investiga-hino-nacional-em-linguagem-neutra-em-ato-de-boulos

3

Para saber mais sobre a história de Olympe de Gouges, sua Declaração dos Direitos da Mulher e sua posterior condenação à guilhotina, ver: https://lume.ufrgs.br/handle/10183/218052

4

A história do sexismo soviético é documentado por escritoras dissidentes, mas ainda não temos esses documentos disponibilizados em nosso idioma. Um episódio marcante da história soviética, no entanto, é a proibição do aborto em 1936, dezesseis anos após sua legalização, durante o endurecimento do regime sob a direção de Joseph Stalin. O aborto só volta a ser liberado em 1955, no regime de Nikita Khrushchyov.

5

Após 35 anos de política do filho único, as mulheres chinesas passaram a receber recentemente incentivos governamentais para terem filhos, a fim de solucionarem o “problema” da natalidade na China, como se fossem meras reprodutoras. Ver: https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/mulheres-rejeitam-incentivos-de-aumento-de-natalidade-na-china/

Discussão sobre este podcast

fêmea feroz
Papo de Fera
O Papo de Fera é um podcast mensal onde Ana (fêmea feroz) e Marina Colerato (lado b) traçam diálogos a partir da leitura conjunta de obras feministas. Essa empreitada surge a partir das trocas, angústias e aspirações acerca da necessidade de disputarmos a narrativa pública sobre feminismo, mulheres e práticas de libertação desde uma perspectiva ecofeminista socialista.