
Olá mulheres, olá ouvintes! Como vocês estão?
Depois de quase três meses meses de hiato e seguindo a toada da publicação #REALOFICIAL da primeira obra traduzida da Sheila Jeffreys no Brasil, voltamos para o Papo de Fera para discutir um pouco sobre o processo de edição dessa obra e seus principais pontos.
Além dessa publicação ser parte de um marco na prospecção de obras feministas radicais no Brasil, ela também é o primeiro livro da Ginna que vocês terão em mãos! Embora o processo tenha sido bastante cansativo, não poderíamos estar mais contentes com a concretização dessa empreitada, que resultou em uma lindeza de livro! Nada disso seria possível sem a contribuição de cada uma, seja com a compra na pré-venda ou com todas as discussões e pontes que tornaram este livro possível! Por isso, agradecemos demais por todo mundo que apoiou e apoia o rolê!
Publicado pela primeira vez em 2003, A origem da política queer (no original Unpacking Queer Politics) retorna à segunda metade do século XX para investigar o processo que deu origem à atual coalizão LGBT antifeminista, que tem como base política uma gama de práticas de dominação e submissão patriarcais mascaradas como um suposto progressismo transgressor.
Em um sucinto panorama histórico, a autora resgata o final dos anos 1960, visando ao movimento de libertação gay e lésbica, e analisa as motivações que levam parte desse movimento à adesão aos estereótipos patriarcais de masculinidade e feminilidade. Essa virada marca não somente uma mudança de viés na agenda política defendida por membros desses grupos, mas também uma separação entre o movimento feminista lésbico e as lésbicas queers, estas últimas encorajadas nas ruas e universidades pelo viés transgressor herdados dos homens gays mais influentes no período.
Além dos comentários sobre o conteúdo interessantíssimo dessa obra, conversamos sobre o processo de edição e tradução desde uma perspectiva feminista; sobre os desafios de tornar acessível em língua portuguesa um livro com tantas camadas de complexidade (e nossas expectativas quanto à sua recepção) e sobre o nível de relevância e atualização que os temas tratados por Sheila Jeffreys têm hoje, em 2025, após a consolidação da política queer à nível internacional. Diante dessa constatação, o cenário para as mulheres não parece ser muito otimista.
A pornografia atingiu níveis alarmantes de consumo e disseminação por meio da internet e das redes sociais, popularizando e levando para crianças cada vez mais jovens – agora na palma da mão – à naturalização da violência sexual contra mulheres.
A prostituição, agora uberizada, adquiriu requintes de luxo em portais que até mesmo patrocinam o futebol brasileiro, exibindo seus anúncios em horário familiar na televisão. Jocosamente alcunhada como a “profissão (sic) mais antiga do mundo” pelos homens, ela democratiza a misoginia entre a direita e a esquerda, demonstrando que não há limites para a brotheragem quando o assunto é a exploração dos corpos das mulheres.
A homofobia também ganhou novo contorno com a popularização das “terapias de afirmação de gênero”, apontadas por Jeffreys no início dos anos 2000 como uma forma de controle social que visa à destruição física e simbólica das lésbicas. Em 2025, meninas (e também meninos) são rotuladas cada vez mais cedo como sendo “crianças trans” pelo simples fato de gostarem de brincadeiras ou roupas tradicionalmente atribuídas ao sexo oposto. Se essa não é uma forma mais sofisticada e sádica de cura gay, não sabemos o que é.
Se, por um lado, a barra está pesadíssima, por outro, é preciso também reconhecer o rebuliço político que o movimento de mulheres agora em curso tem causado. Desde o reconhecimento da mulher pelo sexo biológico no Reino Unido até a resolução do CFM que restringe o uso de terapias hormonais visando à transição de crianças e adolescentes, podemos perceber que ainda há muita água para rolar.
Torcemos para que a disponibilidade em português de A origem da política queer possa representar – ao menos desde a perspectiva teórica, ou partindo dela em direção às demais – um marco na retomada do bom senso, das organizações, negócios e iniciativas geridos por mulheres e, por que não, do compromisso editorial com a conservação do legado das mulheres, e não sua distorção.
Esperamos que gostem do episódio!
Um abraço,
Ana e Marina
Outras referências: