[de acordo com o priberam, o rugido é um “bramido de cólera ou de raiva”
sua etimologia vem do latim rugitus, fazer um ruído.
o rugido é um meio de comunicação que expressa raiva, presença e proteção territorial. através dele, alguns mamíferos defendem seus lares e atestam sua dominância.
o rugido é, como observamos, um ruído. ele pode, em alguns casos, ser ouvido a quilômetros de distância. dependendo de sua proximidade com o animal, ele pode ser mais alto ou mais baixo. no entanto, a mensagem não muda:
– estou aqui, meu lugar é aqui.
o rugido é distintivo. ele demarca, portanto, a diferença.]
olá!
é com muita alegria e frio na barriga que inauguro esse domínio no Substack e convido vocês a me acompanharem nessa jornada de reflexões e troca de ideias.
2023 foi um ano de muita mudanças na minha vida e foi durante esse ciclo que tive a oportunidade de encontrar um caminho viável na minha corporificação e no retorno a esse que foi o primeiro lugar de luta da minha vida: o feminismo. /o feminismo de verdade, viu?/
aos 17 anos eu era uma adolescente idealista e feminista radical, e foi durante esse curto e prolífico espaço de tempo que encontrei uma das maiores forças motrizes da minha existência. mas algo se perdeu desse idealismo.
a vida adulta pôs os grilhões da necessidade de pertencer /a qualquer custo/ em foco e durante muito tempo me afastei daquilo que, na imaturidade da juventude que anseia por crescer e aprender, eu não sabia ser minha real fonte de fortalecimento e busca pela liberdade.
aceitando aquilo que não me descia bem, duvidando da minha própria capacidade de discernimento, passei durante bons anos procurando respostas na luta de classes até perceber que minha existência era tirada de mim através de palavras difíceis e promessas de que “uma hora as mulheres terão sua chance, é questão de tempo”. promessas esvaziadas e falsas mascarando e apagando a cadeia de exploração que eu / e outras tantas mulheres/ experienciaram dentro de movimentos sociais sendo feitas de secretárias, mães e amantes adestradas pelas cartilhas revolucionárias. essa é uma pequena parte da minha história. eu sou apenas uma mulher.
/uma mulher em numeral, não em artigo, pois minha história individual pode ser pequena, mas nossa história coletiva é imensa e é uníssona em toda sua pluralidade. nossa diferença nos torna essa unidade política, social e histórica que tentamos com tanto afinco manter viva. uma unidade de onde a vida se origina e que, portanto, não pode ser destruída [não sem o cataclisma de nossa espécie]. essa é nossa medida. esse é o tamanho de nossos úteros. ser uma mulher em artigo é uma potência que ainda desconhecemos em sua completude. ainda bem. há muito por vir./
os carrosséis ficaram pequenos e, portanto, aqui poderei contar mais histórias. algumas minhas, outras não. mas todas nossas, de alguma forma.
aqui também pretendo dar continuidade a conhecimentos já escritos em forma de traduções e reflexões sobre obras escritas por outras contadoras e construtoras de nossa Codificação, nossa língua mulheril. nosso rugido que se alastra, ora tímido ora feroz.
no mais, e se lhes interessa saber, me sinto bem. minha tristeza tem se tornado fonte de reflexão e mudança; minha raiva, uma amiga forte nos momentos de tensão e necessidade de asserção; minha alegria, um objetivo válido que tenho o direito de aceitar; e o amor /esse que é uma práxis e uma ética que devemos a nós mesmas e a nossa coletividade/ um meio, nunca um fim.
meu corpo é que me dá a oportunidade de viver e sentir o nominado e o inominado /e quem sabe dar nome a ele através da língua materna/. lutemos para mantê-lo vivo e visível.
nosso rugido persiste.